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Os ciclos de vida académica são compostos tanto de expectativas profissionais e pessoais como de tentativas de ganhar conhecimentos suficientes para posteriormente averiguar da sua possibilidade. Será no final deste ciclo, ou eventualmente mais cedo, que se poderá ganhar consciência das suas possíveis utopias, divergências entre os sonhos e a realidade, pelas possibilidades que estes têm de se concretizar. A fase que estes ciclos antecedem e para a qual todos os estudantes caminham com o ideal de poder desempenhar a sua profissão, sobretudo para todos os alunos finalistas, é a da realidade profissional, com os seus devidos deveres, obrigações e sentimento satisfatório de entrar numa nova fase da vida, esperando que a mesma seja correspondente às expectativas criadas, para concretizar sonhos, desejos e intenções. Mas a verdade é que a percepção do sucesso, no que diz respeito à entrada no mercado de trabalho, encontra-se em declínio no seio dos estudantes. Influência das notícias que nos rodeiam, das reflexões em torno da crise financeira, económica, social e cultural, bem como dos comentários que vão compondo o universo estudantil, desde alunos a professores, sobre as precariedades actuais da profissão em Portugal. Estas, colocam alguns alunos, nem todos, a reflectir sobre qual será o papel do arquitecto neste novo ambiente que se entende de grande dificuldade para o exercício da profissão.

A ideia romântica do profissional liberal que exerce projecto, desenhando novos espaços numa relação estreita com o cliente que lhe encomenda o trabalho, a partir do seu atelier, encontra-se em crise. Cada vez mais os estudantes alteram essa primeira ideia, maioritária aquando da sua entrada no ensino superior, para uma outra baseada na avaliação de hipóteses lógicas, através do panorama em que nos encontramos, tentando encontrar mecanismos para solucionar os problemas associados à inserção no mercado de trabalho. Estas acabam por levantar, sobretudo no seio estudantil, três questões maioritárias:

A primeira, e mais debatida, é a relação entre a procura por parte dos recém-licenciados de um lugar para iniciar a sua respectiva actividade profissional, bem como a procura de clientes e de trabalho por parte dos profissionais já instalados com a oferta por parte de quem faz a encomenda, quer seja esta pública ou privada. Esta relação é bastante desequilibrada e, consequentemente, a oferta de estágio ou de início de carreira diminui drasticamente. A segunda, é que nesta realidade continuam a existir elevadas entradas no ensino superior, que, adquirindo uma formação elevada e de qualidade, não têm a possibilidade para posteriormente a aplicar. Por último, existe entre os alunos a noção de que talvez seja necessário alterar e modificar determinados estereótipos no que diz respeito à ideia do exercício da profissão, bem como a metodologia da preparação destes para o mercado de trabalho. Portanto, a partir destas reflexões, as expectativas dos estudantes de arquitectura dividem-se em duas perspectivas de futuro diferenciadas. 

Por um lado, planeia-se o futuro, a partir das possibilidades de emigração, de benefícios com as experiências profissionais no estrangeiro, averiguando se é possível iniciar actividade profissional num país em que a encomenda imobiliária não se encontra estagnada. Os estudantes acreditam que os destinos são países onde o sector imobiliário não se encontra em crise, podendo até, quem sabe, iniciar a carreira num atelier conceituado, ou pelo menos, valorizado localmente. Por outro lado, pondera-se a possibilidade de um contributo desta nova geração a partir da alteração da posição e do papel da profissão em Portugal. Na ausência de construção rápida, esta geração poderá pensar com mais pomenor e tempo nas soluções para a crise, podendo estas ser desenvolvidas a partir de lugares em que o pensamento e a reflexão se dá: a Investigação e o Ensino. Revitalizar estas áreas com novas mentalidades e ideias, será, na expectativa destes, o seu possível contributo para alterar a formação e situação da profissão, possibilitando este processo de alteração através de novos argumentos capazes de solucionar os problemas actuais. 

Portanto, não vejamos estes problemas como fins em si mesmo mas como iniciadores de uma nova etapa, novas possibilidades e oportunidades, para que as mentalidades da acção se modifiquem a partir do início, no ensino e na formação, onde o debate e a reflexão sirva o caminho da prática projectual adaptada a esta nova sociedade. Se a emigração poderá ser uma possibilidade de sucesso, urge igualmente a necessidade de adaptar e de possibilitar o sucesso em Portugal. Que haja ainda esperança em mudar o que de mal está, e que na ausência ainda das soluções para tal, se ganhe a coragem suficiente para ultrapassar as incertezas que atormentam o futuro e arriscar em novas metodologias. Que o seja com a iniciativa de poucos, mas que o seja. E talvez as soluções passem por medidas drásticas, tais como reduções de vagas para o Ensino Superior na área da Arquitectura, exigência acrescida na formação e alteração das estruturas curriculares bem como dos seus conteúdos, visando de forma mais activa a impossibilidade da construção. Mas que haja futuro e expectativas para os próximos estudantes de Arquitectura. 

Que o seja dando possibilidade às ideias e ao contributo que os jovens arquitectos têm para oferecer, na prática, no ensino e na investigação. Que o seu conhecimento sobre o mundo actual, na forma como as pessoas estabelecem ligações e trocam experiências de vida, possam servir de base para modificar mentalidades, opções e estratégias nas mais diversas áreas que estes possam incorporar. Que não sejam vistos como mais uma “fornada” de profissionais que necessita de estágio, mas que o sejam a partir das suas potencialidades e da vontade que lhes está inerente de conseguir concretizar os sonhos que lhes aparecem à partida vedados. Para que de alguma forma, depois de dobrar este adamastor, a dificuldade de iniciar uma actividade profissional e a precariedade actual do mercado de trabalho, se possa concretizar o sonho de se ser Arquitecto, e que se veja a passagem pela Universidade, para os actuais e futuros estudantes de Arquitectura, como um lugar e tempo de boa esperança. |


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